DE SAPOS A PRÍNCIPES E PRINCESAS: O resgate do brincar

Por Wladinéia Danielski

 Segundo Jacob Levy Moreno (1889 -1974), criador do Psicodrama, nascemos espontâneos e criativos, mas, na medida em que somos envolvidos pelo turbilhão da sociedade onde nos inserimos ao nascer, vamos nos alienando dessas potencialidades. Para Moreno urge uma revolução criadora, a fim de resgatarmos a criatividade e assim nos tornarmos protagonistas de nossa existência.

Yozo (1996, p.13) acrescenta que “o adulto adquire modelos, regras e convenções morais os quais, gradualmente, tolhem sua espontaneidade criadora, tornando-se rígido e hermeticamente fechado em seu próprio mundo materialista e consumista. Torna-se prisioneiro da rotina e de suas obrigações. É importante que se aprenda a resgatar a ordem lúdica.”

Nada melhor do que Rubem Alves (1994) neste momento: O autor conta a história do príncipe que foi enfeitiçado para ser um sapo, e tornou-se o melhor sapo, fez toda uma aprendizagem “sapal”, obteve nota 10 na escola dos sapos, e esqueceu-se que era um príncipe. Alves (1994) diz que é isto o que muitas vezes a sociedade faz com as pessoas: as transforma em outra coisa que não é o que elas são. Isto é um feitiço, e o feitiço deve ser quebrado.

                Quebrar o feitiço, realizar uma revolução criadora, resgatar a ordem lúdica!

“Entende-se como ordem lúdica a interrupção temporária da vida real para jogar. Essa interrupção permite ao indivíduo libertar-se de suas amarras sociais. É um momento mágico onde o jogar é desprovido de censuras ou críticas. […] o lúdico representa o processo de aprendizagem e descoberta do ser humano. É uma forma direta de colaborar na construção cultural de um povo, de uma sociedade. Com o jogo aprendem-se regras, limites e obtêm-se objetivos claros, de forma voluntária e prazerosa.” (YOZO, 1996, p.13)

                Tudo isso significa voltar a brincar!

É através de jogos, brincadeiras e histórias, espontaneamente criados, que as crianças procuram lidar com o mundo que proporcionamos para elas, assimilando-o, entendendo-o e transformando-o. Através do jogo e do faz-de-conta, além de aprender regras e limites como dito acima, a criança revela o sentido que o mundo tem para ela, e tem a possibilidade de rever e ressignificar tal sentido. Daí a importância do jogar e criar na infância e também na vida adulta. É fundamental que os adultos estimulem e participem desse processo com a criança. Estarão fazendo o bem para seus pequenos, e o bem para eles mesmos.

Esquecemos de brincar, e isto deve ser resgatado, pois assim deixaremos de ser sapos e voltaremos a ser príncipes e princesas!

 

REFERÊNCIAS:

YOZO, Ronaldo Yudi K. 100 jogos para grupos: uma abordagem psicodramática para empresas, escolas e clínicas. São Paulo: Ágora, 1996.

ALVES, Rubem. A alegria de ensinar. São Paulo: Ars Poética, 1994.

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