A mão e o instrumento.

“Algo que aprendi há muito tempo é que o instrumento sozinho nada é. A mão que o utiliza é que determina se será um instrumento eficaz ou não, construtivo ou não. Assim é na Medicina. Em grego Farmakon significa remédio e veneno. Porque ele pode ser ambos. Uma cirurgia não é feita pelo bisturi e sim pela mão do cirurgião. O remédio auto prescrito pode ser grandemente lesivo à saúde paciente. O ECT pode ser um instrumento heroico para um paciente com depressão refratária e ideação suicida presente. O ECT foi usado nos Gulags como instrumento de repressão. Se no uso do instrumento médico de tratamento não estiver envolvido vieses religiosos, morais ou de outras matizes, o profissional é responsável pelo seu uso.

No âmbito da área psiquiátrica há os remédios e outras terapias biológicas que têm fundamentação científica e os que não a têm. No âmbito das psicoterapias, quase todas elas não foram criadas com a determinação de serem validadas. A validação é um processo que exige replicabilidade, protocolo de uso e outras exigências que quase todas as psicoterapias não podem cumprir. Mas, como as psicoterapias são mais destinadas aos seres humanos que são portadores de problemas psiquiátricos e não, propriamente, aos sintomas e sinais psicopatológicos, aquele que as utiliza precisa conhecer o terreno que está pisando para lidar com suas ferramentas psicoterápicas. A exceção à essa quase regra é a TCC por ter sido criada por Aaron Beck com a a meta de ser validada, ajustando-se às exigências formais.

O Psicodrama, como todas as formas psicoterápicas não é uma camisa de força terapêutica.

Ele não é aplicado independente do que o paciente apresenta. Como todas as formas psicoterápicas, a ajuda (terapia em grego é ajuda e não cura) ao ser humano caminha lado a lado com os tratamentos mais responsivos sintomaticamente. O conhecimento nunca é suficiente. O que atrapalha são as pretensões de conhecimento hegemônico. Em toda atividade profissional há profissionais com conhecimento dos efeitos e limites de seu instrumento e profissionais que só superficialmente conhecem seu próprio instrumento e seus limites. Essa é toda a diferença.”
Antonio Carlos – Tom
Psiquiatra e Psicodramatista.

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